Um prodígio despontou em Memphis, uma cidade dos EUA cativada pelo rock, blues e soul. Empunhando sua guitarra, ele tinha o que muitos desejam: talento precoce. Aos 14 anos, já estava com a banda de southern rock Black Oak Arkansas. Ninguém esperava tanto som de alguém tão jovem.

Esse foi Shawn Lane. Nascido em 1963, era movido por paixão artística e fúria criativa podia passar até 20 horas forjando músicas.[1] Bebeu em variadas fontes: rock, jazz e música indiana. Influenciou guitarristas importantes, como Paul Gilbert (Mr Big, do hit “To be with you”) e Buckethead. 

Não era só guitarrista. Tocava piano – dizem que era seu instrumento de preferência para compor. Contudo, seu estilo se direcionou a tangentes da música de sua terra natal: a guitarra fusion. Nesse ponto, começou o primeiro desafio de sua jornada: a música para poucos.

O fusion é uma linguagem que mistura o peso do rock com a liberdade do jazz, abrindo-se ainda para outros estilos. Respeitado por pequenos círculos de músicos e aficionados. Mas para o público amplo? Soa confuso e anacrônico. E então, veio o segundo desafio de Lane: a época em que despontou, os anos 1990.

Em 1992, Lane lançou o álbum de melhor distribuição de sua carreira, Powers Of Ten. Mas era tarde. O mercado e a cultura mudaram. E foi brusco. Virtuosos da guitarra e a vivacidade dos anos 80 haviam sido desconstruídos. Veio a chuva e o cinza do grunge. Sua paisagem musical não encaixava.

A associação de Shawn com a velocidade dos anos 80 limita a compreensão de sua obra. Um de seus parceiros mais importantes, o baixista Jonas Hellborg, questionou essa visão para a Guitar World: ‘Uma igreja de Shawn Lane está se formando e as pessoas falam muita bobagem (...) uma obsessão por quão rápido Shawn podia tocar. Claro que ele podia (...), mas o que tornava isso fantástico era o que ele tocava’. [1]

De fato, Lane usava a velocidade como recurso um vocabulário próprio. Não para se exibir, mas para adicionar texturas inusitadas. Para além disso estava a sua criatividade e capacidade de improviso. No fundo, era sua visão particular da música. 

Luther Dickinson, amigo e ex-aluno, lembrou-se de uma frase dele: ‘toque cada nota como se fosse a última, pois uma delas será’ [1]. Em seu tempo com ele, aprendeu a valorizar cada minuto tocando e a dar tudo de si.

O terceiro e maior desafio foi uma doença. A artrite psoriática causa inchaços, dores e dificuldade de movimentar as articulações, entre outras complicações. Mesmo assim, ele continuou tocando e se apresentando. Em 2003, a doença venceu. Tinha apenas 40 anos. [1] [2] 

Esse cenário até hoje desperta a curiosidade dos fãs. Mas Jonas Hellborg pontua:  “Acredito que (sua doença) deva ser mantida numa questão pessoal. Sim, ele morreu cedo e é uma tragédia, mas o que importa agora é sua contribuição para a música e guitarra.”  [1]

Ele tem razão. Afinal, nada parou a paixão de Lane pela música, nem sua busca por aprendizado. Seu estilo era de nicho e taxado de fora de moda? Para ele parecia irrelevante. Ele se importava com o que o movia. Para nós, ficam ao menos dois legados: sua música e a perseverança com suas paixões.

Fontes e outros links de interesse:

Keep Reading

No posts found