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"Se eu morrer não chore, não, é só a Lua”
“Um girassol da cor do seu cabelo” — Lô Borges, Márcio Borges

Certa vez, vi Samuel Rosa dizer que as músicas do Clube da Esquina despertavam nele um sentimento curioso. A saudade de um tempo em que não vivera — anemoia. Os parceiros do Clube são mestres no artesanato desse tipo de canções. Fortes, emocionais, entre a nostalgia e a distopia. Mas não soam datadas. Ao contrário, são atemporais.

Nos deixou um desses mestres, Lô Borges. Suas criações sobem essas montanhas afetivas. Mesmo as faixas recentes, como “Rio da Lua” (2019), parceria com Nelson Ângelo, despertam o agridoce. Aqueles nós no coração: de um lado, a alegria puxa. Do outro, quem puxa é a dor.

Para Lô, a arte dos sons era “alimento espiritual”. Via sua prática como musicografia — uma espécie de “psicografia musical”. Sentia prazer em "pegar o silêncio e transformar em música". Fazia de forma simples: exercitava a composição todo dia. Como dormir, respirar, comer.

Gibran Khalil Gibran tocou nisso em A Música, de 1905:

“(...) a música é a linguagem das almas. Suas modulações são brisas suaves que tocam as cordas dos sentimentos, são dedos delicados que batem a porta dos sentidos e acordam a memória, e acontecimentos enterrados pelos anos nos campos do passado revivem com todo o seu cortejo de emoções”*

O contato com a música desenterra o que nem sabemos que existe dentro de nós. É capaz de nos ligar a diferentes tempos: os que vivemos, os que não vivemos. E os que gostaríamos de ter vivido. Um passado que nunca existiu, mas que ainda assim nos habita. Lô guardava uma frase do pai: “o tempo é uma abstração da mente. O tempo não existe”.

Talvez essa ideia tenha ficado ali, numa dobra da memória. Pronta para se “psicografar” em alguma canção, misturada às suas lembranças e vivências. Viagens e moradas. Paisagens e janelas. Avenidas e esquinas.

E nós, assim, seguiremos: ouvindo a música de Lô Borges. Por um tempo indefinível.

*Tradução e Apresentação - Mansour Challita

Referências

[1] Discos do Brasil. RIO DA LUA. Disponível em: <https://discografia.discosdobrasil.com.br/discos/rio-da-lua>. Acessado em 12 de novembro de 2025.

[2] Gibran, K. G. (1975 ). A Música. Tradução e Apresentação de Mansour Challita. Associação Cultural Internacional Gibran (ACIGI).

[3] Faria, N.; Borges, L. Lô Borges e Nelson Faria | Um Café Lá Em Casa. Programa de entrevistas. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=hDZBixUz6P8>. Acessado em 10 de novembro de 2025.

[4] Borges, M. (2011 ). Os Sonhos não envelhecem: Histórias do Clube da Esquina. São Paulo: Geração Editorial. ISBN: 9788561501570.

[5] Barros, A.; Borges, L. Mistura Cultural | Lô Borges. TV Cultura, 16 de abril de 2022. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=loEStwwL-lA>. Acessado em 10 de novembro de 2025.

[5] Discos do Brasil. Portal de discografia brasileira. Disponível em: <https://discosdobrasil.com.br>. Acessado em 19 de novembro de 2025.

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